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Menino é entubado e tem a pele toda queimada após reação rara de remédio: 'Toda a pele do meu filho se soltou'

Sua mãe, Raquel*, conta que o garoto sempre usou a medicação e nunca teve reação. Mas, um dia após utilizar o remédio, acordou com os olhos e a boca inchados. Raquel achou que era uma alergia normal.

Imagem: Arquivo pessoal.


"Levei-o à UBS (Unidade Básica de Saúde), mas não fomos atendidos. À noite, ele piorou, vomitava e estava mais inchado. Ao levá-lo ao Hospital Menino Jesus [na capital paulista, do SUS], os médicos decidiram interná-lo", lembra. J. só foi piorando. A mãe conta que foi assustador ver o menino naquelas condições de um dia para outro. Surgiram bolhas d'água por todo seu corpo, como se fosse uma queimadura, mas estouraram.

Toda a pele do corpo dele se soltou.

O garoto teve reação cutânea adversa a medicamentos, chamada de farmacodermia.

"O paracetamol é apenas um dos medicamentos com potencial de causar a farmacodermia", afirma Antonio Carlos Madeira, superintendente médico do Hospital Menino Jesus, referência no atendimento a crianças e adolescentes, gerido pelo IRSSL (Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês)

Diagnóstico demorou três dias

No momento da internação, os médicos não sabiam o que J. tinha. Na madrugada, ele foi transferido para a UTI. No segundo dia, foi entubado.

No 3º dia, os médicos me informaram o diagnóstico. Ver seu filho se desfigurando na sua frente é muito ruim. Foi a pior sensação que já senti. É horrível, tenebroso e senti muito medo, apesar de todo o suporte que me foi dado.

O tratamento utilizou mantas e os curativos eram trocados a cada 7 dias. J. não ficou muito tempo intubado, para evitar consequências, mas o tempo total de internação foi de 35 dias. Hoje, ele está muito bem e continua em tratamento, tudo realizado pelo SUS. Segue sendo acompanhado pelos especialistas, no mesmo hospital e, inclusive, participa de consultas com psicólogo.

Segundo a mãe, o menino tem fotofobia, irritação dos olhos em presença de luz intensa.

Apesar de as córneas não terem sido afetadas, o problema nos olhos demora um pouco mais para sarar, por conta do ressecamento das mucosas. Os cílios nascem invertidos. "Ele já fez alguns procedimentos para correção e para aumentar a abertura dos olhos."

Como a pele descamou inteira, usa medicamentos para evitar cicatrizes e reduzir as manchas que ficaram. Por conta das sequelas, J. ainda está afastado da escola.

Ele venceu, agora, é recuperar e não tomar mais nenhum remédio que tenha paracetamol na composição. Fenômeno raro A equipe médica avalia que a recuperação do J. foi surpreendente, pois, apesar de raras, as farmacodermias podem ser fatais.

As reações causadas por medicamentos, em sua maioria, são inespecíficas. No início, entre as manifestações estão febre elevada, manchas pelo corpo, fotofobia e lesões de mucosa (boca e região genital). Os sintomas começam em horas ou em poucos dias após a exposição à medicação. Acometem, a princípio, bocas e olhos e, na sequência, tórax e membros.

"Os pais devem procurar um pronto-atendimento para avaliação por um pediatra e, sempre que possível, suspender o uso da medicação que, provavelmente, levou ao quadro até a liberação por um especialista", aconselha o superintendente médico do Hospital Menino Jesus. Além disso, recomenda-se evitar a automedicação e restringir o uso de medicamentos, apenas quando necessários e prescritos por profissional habilitado para isso.

O mecanismo da farmacodermia não é completamente conhecido, segundo Madeira, a reação envolve a destruição de queratinócitos —células presentes na epiderme, camada mais superficial da pele—, desencadeando um processo inflamatório disseminado e a perda da integridade da pele. Na sequência, ocorre o descolamento da epiderme e da membrana mucosa em mais de 30% do corpo.

Por se tratar de evento raro em pediatria, o médico do Hospital Menino Jesus explica que identificar maior suscetibilidade é um desafio, visto que pacientes com câncer e com algumas alterações genéticas podem ter risco aumentado para desenvolvimento de farmacodermia. "Um estudo americano publicado em 2018 na Pediatric Dermatology, mostrou que dentre as crianças afetadas 38,4% delas tinham de 11 a 15 anos de idade."

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